sábado, 28 de maio de 2011

Caso Apostila

Práticas de Gestão - Estudo de Casos I
                                                                                                        “APOSTILA”
 Profa.Hilda Micarello - Prof. Manuel Palácios - Profa. Rogéria Campos de Almeida Dutra

                                                                                            MALVINA E A ESCOLA
Cada vez que Malvina recebia uma convocação para reunião na Secretaria de Educação ficava ansiosa, inquieta, pois nunca se sabia o que de lá viria. Talvez um balanço geral do ano, com todos aqueles números sempre negativos, ou então, o que seria pior ainda, a notícia de que seu padrinho político já não estava tão forte assim e ela poderia ser transferida para alguma escola distante.                                                                                                                                                                                                                  Agora os tempos eram outros, muitas professoras estudando à noite, batalhando em algum curso superior noturno para seguir carreira. Enchiam dois ônibus, as professoras e jovens estudantes, para viajar até Araraquara todos os dias, voltando para mais de meia noite, a fim de fazerem faculdade. Malvina ficava bem incomodada com aquilo, se perguntando se não deveria também fazer mais alguma especialização “para se garantir”. Para ela a carreira também não foi tão fácil assim: desde os tempos de professora na zona rural, quando chegava a cavalo na escola para trabalhar, até conseguir finalmente o cargo de diretora da Escola Municipal Teodorico D’Ávila. Foi depois do casamento que as coisas começaram a melhorar, quando foi morar na capital por conta do emprego do marido e teve oportunidade de fazer faculdade, se especializar durante a vida de casal novo. Com os filhos praticamente criados, a volta da família Peres para a pequena cidade de Água Clara representou para ela uma retomada de fôlego em seu trabalho. Apesar da experiência como professora, o que mais ela gostava de fazer em escola era administrar. Organizar tudo e todos, cuidar dos horários, conversar bastante... Ah, sim! Teve que aprender a ouvir muito; ouvir mais do que falar. Sentia-se muitas vezes como uma “mãezona” de todos, sempre prontificada a corrigir; tinha consciência de que às vezes
exagerava nos detalhes, criando picuinhas desnecessárias. A chave do banheiro da secretaria, por exemplo, exigia que ficasse dependurada ao lado da janela, e em nenhum outro lugar... Não era assim, porém, que a comunidade escolar via D. Malvina.
As crianças, quando D. Malvina se aproximava, faziam questão de se incomodar com sua presença, deixando a espontaneidade de lado para fazer um silêncio de sussurros do tipo “Aí vem a diretora D. Malvina”. Também, não poderia ser de outra forma, pois os momentos cerimoniosos em que D. Malvina falava eram chatos, como as repreensões por conta da (falta de) disciplina, as brigas no recreio, a confusão no banheiro ou as “ovelhas desgarradas” que sempre arranjavam um jeito de pular o muro e ir embora. O que eles gostavam mesmo era de D. Malvina organizando a festa junina, com tudo que tinha direito: canjica, milho verde, pé-de-moleque, pescaria, prendas, o Baile da Roça. E ela se esmerava, pois após tanto tempo trabalhando nas escolas da capital via, com satisfação, que em Água Clara ainda se comemorava São João. A Festa Junina da escola era um grande evento na comunidade.
Foi por suas visitas ao comércio local em busca de doações para a festa que ficou conhecendo grande número de pais, com os quais mantinha relações cordiais. Daquela moça que foi para a capital recém-casada e voltou diretora eles esperavam uma escola que “encaminhasse” seus filhos. Alguns pais eram mais participativos, mas a maioria esperava que a escola ocupasse as crianças,
os deixasse trabalhar e não desse muitas despesas. Parecia que, quando encontravam a diretora, os pais se lembravam de seus filhos, cujos modos infantis e inesperados não mais se reduziam ao espaço da própria casa e da vizinhança: “Como é que o Pedrinho está na escola, você acha que ele melhorou? Ainda está andando com aquela turminha da pesada? Você sabe que essas amizades não estão fazendo muito bem a ele... Queria até pedir à senhora, para ele mudar de turma”. Como se ela pudesse lembrar cada caso e em cada caso interferir... Quando isso acontecia, ela gentilmente falava da reunião de pais, que seria importante a participação de todos. Mas eles queriam reuniões para assuntos objetivos e particulares, ou seja, sobre “o meu filho”. E assim o Conselho de Pais seguia aos trancos e barrancos, alguns poucos que cumpriam sua missão contando os dias para
serem substituídos, pois “essas coisas de política ninguém conseguia mudar...” Ou, como o Sr. Camilo costumava dizer, gastavam um tempo enorme discutindo “só para inglês ver”, uma vez que as decisões importantes, como aumento de verbas ou a reforma da escola, eles “lá em cima” tomavam sem considerar os interesses da comunidade.
Os professores formavam um grupo heterogêneo e disperso, para o bem e para o mal. Sim, porque, para Malvina, aquele emaranhado de posturas divergentes exigia-lhe esforço na tomada de decisões. Por outro lado, os indiferentes ou desesperançados até que contribuíam, pois muitas vezes respondiam: “Pode decidir você mesma, que tá mais acostumada”. E ela fazia do seu jeito.
Tinha mais afinidade com os professores mais velhos. Professoras, melhor dizendo, pois não se acostumava com os professores. Eles não tinham jeito para lidar com crianças! Os jovens professores (moças e rapazes) ela não entendia: tão informados sobre seus direitos e dispersos no cumprimento dos deveres, divididos entre tantos projetos pessoais. Aliás, aprendeu a não falar a palavra “dever” que, para a geração mais jovem, parecia ser sinônimo de tarefa imposta por outro, e não fruto da própria escolha que fizeram. Parecia até que foram decididos a se tornarem professores, ao invés de decidirem. Assim, ela foi aprendendo a solicitar auxílio àqueles que não criavam muita confusão, que tinham uma vida mais pacata, sem muito noticiário ou leituras.
Malvina confiava mesmo era nas serventes, trabalhadoras, jornada dupla ou tripla que começava antes do sol raiar. Elas se sentiam gratas pela confiança e a decisão de incluir a presença “das profissionais da manutenção” nas reuniões de avaliação semestral foi recebida com muito bom grado. Aproveitaram para falar da sujeira da sala dos professores, das intermináveis xícaras de café em cima da mesa e das salas de aula mais bagunçadas da escola. A maioria frequentava a Igreja Pentecostal, com uma
disposição quase ferrenha em ser correta. Davam até palpite quando não lhes cabia, como na decisão sobre a Semana da Educação Sexual, em que chamaram Malvina na cantina após o expediente para lhe transmitir o temor de se ensinar “essas coisas” para as crianças e, depois, não ter condição de acompanhar o que elas fariam com tantas informações “perigosas”. E ainda acrescentavam: “aquele professor do sétimo ano já andou dizendo para as crianças que nós viemos dos macacos!” Ao final das
contas a Semana da Educação Sexual foi adiada, tal a quantidade de bilhetes que Malvina recebera dos pais dizendo que seu filho não participaria, que aquele era assunto de casa e que, ao invés de inventar “moda”, as professoras e a escola deveriam estar preocupadas em ensinar.
                                                                  A REUNIÃO NA SECRETARIA DE EDUCAÇÃO
A Secretaria de Educação funcionava num antigo casarão do início do século. Pé direito alto, janelas grandes e cômodos pequenos que se tornaram um verdadeiro labirinto de divisórias. Não estava estruturalmente equipada para estes novos tempos de muita gente incluída, circulando pelos corredores, o que fez com que a administração municipal fosse construindo anexos no antigo quintal para eventos desta natureza.
Malvina chegou pontualmente e encontrou suas colegas de profissão, algumas sentadas, outras em pequenos grupos de conhecidas, todas curiosas sobre o motivo da convocação naquela tarde calorenta de dezembro. O secretário de educação, que veio da capital há alguns meses com a incumbência de agilizar as reformas na educação prometidas pelo prefeito, era um jovem economista. Daí seu ar de jovem executivo, que não respira criança nem pó de giz, e seu apreço por tabelas; um perfil que claramente se afinava com o papel de “gestor”, forma pela qual o secretário gostava de ser reconhecido. Sua competência seria medida pela capacidade de angariar recursos para a educação, de forma que fosse possível melhorar a infraestrutura das escolas já existentes, assim como construir novas em face do grande número de crianças e jovens solicitando vagas.
O impacto do Programa Bolsa Família em Água Clara se fez observar não só no desenvolvimento do comércio, mas também pela demanda de vagas nas escolas. Grande parte dos bóias-frias saiu do campo para se amontoar na periferia, agora com um dinheiro a mais para gastar e consumir.
O Secretário chegou após quase uma hora de atraso, acompanhado por um séquito de assessores. Após as formalidades iniciais, manifesta sua insatisfação com os índices escolares do município através de uma apresentação em Power Point2. Os problemas elencados, do seu ponto de vista, se restringiam à equação dos matriculados e dos evadidos e, para coroar, o fraco desempenho dos alunos na Prova Brasil. Nada sobre a falta de infraestrutura das escolas, a necessidade de se contratar profissionais -  A título de ilustração, vale a pena destacar um interessante estudo elaborado pelo Instituto de Pesquisa e Economia Aplicada (IPEA) sobre
o impacto das políticas sociais no crescimento econômico e na distribuição de renda:  http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/comunicado/110203_comunicadoipea75.pdf    
 É possível conhecer os dados sobre o desempenho educacional de um município, UF ou rede de ensino através do Portal IDEB: http://portalideb.inep.gov.br/  As informações lá disponíveis são sempre cotejadas com projeções feitas pelo Ministério da Educação (MEC).  - de segurança para os portões, a grande rotatividade das contratações temporárias de professores, a escassez de produtos básicos para a merenda escolar e para a limpeza. E Malvina, que veio com a intenção de solicitar apoio para a coleta seletiva de lixo na escola, concluiu rapidamente que seria melhor contar com a ajuda do comércio local para patrocinar o material necessário. Após a primeira parte da apresentação, a plenária se abriu para sugestões. Algumas diretoras levantaram a questão da baixa remuneração do magistério; outras falaram da falta de apoio às famílias em situação de risco; e outras ainda levantaram a urgência de exame de saúde para os alunos, muitos dos quais apresentavam deficiências auditivas e de visão que poderiam estar comprometendo o processo de aprendizagem. O secretário escutou gentilmente, mas rapidamente passou para a apresentação seguinte, que poderia se resumir na seguinte frase: “Sem melhoria no desempenho não há como angariar fundos para as tais melhorias sugeridas. É preciso que os estudantes alcancem melhores pontuações nos exames externos”. O papel do primeiro escalão seria o de procurar resolver, da melhor forma possível, a falta de recursos municipais. E complementou: “Vocês viram a declaração de nosso presidente Lula esta semana na televisão? Ele disse que o governo estava aberto a solicitações de todos, mas que viessem com um projeto de utilização do recurso, com metas e resultados esperados.” Assim o secretário continuou a apresentação dos resultados obtidos pelo município na Prova Brasil. Parecia um sermão de pai, que ao se deparar com as notas vermelhas do filho falava do coleguinha vizinho que não causava decepções a seus genitores. Dolorosamente foi comparando os índices, escola por escola, para depois apresentar os resultados das cidades vizinhas. E se Malvina já havia suspirado de alívio por não ter sido sua escola uma das “lanterninhas” da lista, veio-lhe a inquietação quando o secretário complementou afirmando que as escolas centrais deveriam ter mostrado melhor desempenho para compensar as demais. E, então, é apresentada a solução: neste próximo ano a Prefeitura de Água Clara não mais se inscreveria no Programa Nacional do Livro Didático. Em convênio com uma grande empresa que atuava no Estado de São Paulo, a Secretaria Municipal de Educação iria adotar um Sistema Estruturado de Ensino. Segundo o secretário, com esta medida Água Clara estaria entrando para o grupo seleto da vanguarda da educação. Uma opinião, diga-se de passagem, endossada pelo coro das 225 prefeituras do estado que já haviam adotado este sistema. O secretário complementa: “As vantagens são inúmeras e no decorrer de nossa reunião vamos continuar esclarecendo e respondendo às dúvidas, mas já adianto a vocês que esse é o caminho mais viável. Haja vista o crescimento galopante de adesões de outros municípios, de 1400%, se considerarmos que em 2001 apenas 16 Prefeituras haviam adotado esta medida. Para maiores esclarecimentos convidamos a Profª Drª Giulia Vatimo, pedagoga formada pela USP com pós-graduação no exterior, que trabalha para a empresa responsável pela divulgação dos materiais que compõem o Sistema de Ensino a ser adotado”.
Nova apresentação em Power Point. Uma jovem elegante e inteligente apresenta a proposta de “livros consumíveis” para além do período de alfabetização. Apostilas nas quais os alunos de todas as séries poderiam escrever e rabiscar; apostilas para os professores com orientações passo a passo de cada aula, preparadas por especialistas de todas as áreas. Avaliações previamente elaboradas e anexadas aos materiais. E suporte on line para a formação dos professores. Enfim, nas suas palavras: “Um modelo para o mundo. Uma solução completa”. A pedagoga complementa sua exposição enfatizando que este modelo seria perfeito para qualquer gestor de escola, na medida em que apresentava as aulas já estruturadas e, simultaneamente, estabelecia um controle indireto do que acontecia em cada sala. Além disso, o sistema ofereceria a capacitação dos professores, contribuindo com a Secretaria da Educação no trabalho da formação continuada. Ainda segundo a pedagoga os resultados de suas pesquisas indicavam a melhoria no desempenho dos alunos, expressa no aumento das médias de proficiência em avaliações externas das escolas nas quais o sistema foi adotado, uma vez que haveria uma maior exposição dos alunos ao conteúdo de cada disciplina, associado ao melhor uso do tempo em sala de aula, sem perda de tempo com o uso exaustivo da lousa, sem aulas improvisadas. E já antevendo as possíveis reações adversas, conclui: “Padronizar é aumentar a equidade. Precisamos adotar medidas que garantam o direito do aluno de aprender!”
Após a salva de palmas da platéia, o secretário anuncia que caberia a cada diretora a divulgação deste novo modelo na comunidade escolar, para que na segunda quinzena de janeiro fosse agendado um curso de capacitação na nova metodologia. Abre-se o espaço para as perguntas. Muito tímidas, sem grandes questionamentos, as diretoras e coordenadoras presentes encaminhavam perguntas sobre a operacionalização do sistema. Malvina entendeu logo que estava diante de mais uma batata-quente a ser passada aos professores e pais, e que o seu papel seria apenas o de transmitir esta nova ideia, não havendo espaço para os professores opinarem e, ainda, tendo que convocá-los em pleno mês de janeiro. Apesar das férias oficiais municipais serem no mês de julho, o recesso de janeiro era vivenciado pelos trabalhadores do ensino como férias. E concluiu a necessidade de convocar uma reunião geral o mais rápido possível, para não alimentar muita polêmica nem fuxicos.
                                                                                 DE VOLTA À ESCOLA
Uma semana depois, no sábado pela manhã, estava ela perante os 25 professores atuantes na Escola Municipal Teodorico D’Ávila. As reuniões aos sábados eram sempre problemáticas, pois apesar do consenso de que não havia outro horário disponível para a presença de todos, os professores demonstravam um comportamento defensivo. Tinha o grupo que chegava pontualmente para sair mais cedo, e outros que chegavam com atraso para ficar até ao final. Tudo calculado para expressar a insatisfação. Após a exposição inicial de Malvina as perguntas salpicaram. “Afinal, Malvina, nós podemos optar ou não por este modelo?” “Teremos também à disposição os livros didáticos para os estudantes?”. E ela teve que responder o óbvio, já embutido nas medidas anunciadas: “Este projeto veio para ficar. E a Secretaria de Educação já anunciou que não solicitará livros didáticos ao MEC”.
A sala se encheu de conversas paralelas, burburinhos. Alguns se levantaram discretamente para sair. Márcio, professor de Geografia, militante do sindicato, aumentou o tom de voz, e comentou: “Mas isto é um desrespeito à autonomia do professor! Isto é uma conspiração para acelerarem a implantação da educação virtual, pois se existe a aula já formatada, daqui a pouco nós não seremos mais necessários! Além disso, vejo aí um indício da privatização do ensino... Por que eles não investem na melhoria do salário do docente, que anda bastante desestimulado com sua profissão? Quanto a Secretaria de Educação vai ganhar com esse conluio com a iniciativa privada!?” Palmas esfuziantes do grupinho à sua volta. Malvina não tinha respostas, nem uma opinião completamente formada sobre essas questões. Sabia apenas que a adoção dos Sistemas de Ensino era uma prática cada vez mais frequente nas escolas particulares da capital. Seus filhos, cursando o ensino médio na capital, já estavam lidando com apostilas desde quando as universidades implantaram o sistema progressivo de ingresso, através de exames feitos ao final de cada ano. Esta medida, apesar de aliviar a pressão do vestibular tinha, a seu ver, esvaziado a proposta do Ensino Médio, antecipando a corrida do vestibular. Por outro lado, sua experiência mostrava que a melhoria do salário dos professores nos
últimos anos não tinha se revertido no melhor desempenho do aluno. A cultura dos resultados era cruel, pois contra fatos e evidências não havia argumentos plausíveis. Respondeu então o que havia escutado da Dra. Giulia: “As pesquisas na área da educação têm demonstrado que o desempenho do aluno brasileiro é realmente vergonhoso. Os alunos concluem o Ensino Médio, principalmente nas escolas públicas, com uma matemática compatível à 4ª série do ensino fundamental! E o governo quer resultados. Vocês sabem que temos um grupo bastante heterogêneo de professores!” Débora, professora de Matemática, retrucou veementemente: “Já vem aquela ladainha da qualidade do professor... O que o governo espera de uma profissão tão desvalorizada? É isto mesmo, professor é peão. Operário do giz. Meus pais não tiveram condição de me dar uma educação satisfatória, praticamente analfabetos, eu é que tive que me fazer. Por que não melhoram primeiro as condições gerais do ensino básico para depois avaliarem? Vi também uma reportagem de uma escola numa cidade do Rio Grande do Sul que teve um dos melhores desempenhos na Prova Brasil. Os alunos ganham tudo: uniforme, pastas, material escolar da melhor qualidade, aulas de reforço à tarde. Eles simplesmente foram bem tratados e responderam! Assim como a área da saúde implantou os agentes
comunitários de saúde para cuidar da população, acho que deveria ser implantado um sistema de agentes comunitários da educação, com pessoas da comunidade visitando as casas e acompanhando os estudantes... Já temos uma lista diversificada de livros indicados pelo PNLD. Dizem que as editoras “penam” para terem seus livros aprovados, tamanha é a exigência. Outra notícia: a Polícia Federal encontrou cerca de 2 mil livros num sebo na cidade de Natal. Por que o governo não fiscaliza melhor
o seu investimento na educação? Assim poderia sobrar recursos para cuidarmos melhor das crianças e deste espaço que é feito para elas.”
“Débora, sabemos que os professores não têm tido muito critério na escolha dos livros, optando, muitas vezes, por materiais de qualidade questionável. Mas eu também tenho algumas dúvidas, pois até onde eu sei o Ministério da Educação faz avaliações de livros didáticos e não de materiais apostilados. A municipalização do ensino trouxe um excesso de atribuições às prefeituras, e elas estão enfrentando grandes dificuldades para trazer para a prática as diretrizes e propostas educacionais...”,
responde Malvina, já decidida a não criar muita polêmica. Neuza, professora de Ciências pede a palavra: “O problema do Brasil é a má qualidade de gestão dos recursos. Temos centenas de leis para ninguém cumprir, enquanto os ingleses, com uma constituição
mínima, garantem a sociedade funcionando. Para esta dificuldade das prefeituras já existe o Plano de Ações Articuladas, um reconhecimento indireto da incapacidade dos municípios de formularem suas políticas educacionais. É um mecanismo público e aberto a todos. Eu penso que o material estruturado é uma necessidade legítima dos professores e escolas. Mas bom material estruturado não é qualidade exclusiva das apostilas. Os kits de Cadernos de Aprendizagem em Ciências, tradicionalmente solicitado nesta escola, são um exemplo6. Com as empresas oferecendo material didático e capacitação de professores, elas acabam modelando o currículo, assumindo o papel que deveria ser dos governos, que é a implementação de políticas públicas para assegurar o acesso a direitos... Além disso, onde fica nossa Proposta Pedagógica, que lutamos tanto para construir, diante de materiais cujo conteúdo e metodologia de trabalho já estão previamente definidos?” Nova onda de palmas, acaloradas por
rasgos de patriotismo. Porém, o barulho vinha sempre dos mesmos. As coordenadoras pedagógicas permaneciam em silêncio, apenas queriam conhecer o lado operacional do novo modelo.
Quando Malvina anunciou a data da capacitação - segunda quinzena de janeiro - veio outra onda de protestos. Até o grupo lá do fundo, que volta e meia folheava uma revista de cosméticos da Natura, se manifestou com caras e bocas. “Mas nas nossas férias?!!!” Malvina, então, sem papas na língua, lembrou a todos que, sendo este curso parte da política educacional do município, a presença daqueles que gostariam de continuar como professores da rede municipal seria imprescindível. Este
era o grupinho de jovens professoras, daquelas com filhos pequenos, algumas já separadas, que ainda lutavam pelo diploma de Pedagogia. Nunca se sabia o que realmente pensavam... A reunião com os pais para apresentação da proposta aconteceu na semana seguinte. Sem grandes questionamentos, eles escutaram, embora o grupo de Márcio tenha distribuído panfletos alertando aos pais sobre a “ameaça à autonomia da escola e dos professores”. Os pais pareciam confortados com a ideia de que cada aluno teria o seu material. “Na minha opinião, esta medida só vem a melhorar nossa escola. Rita, minha filha de 10 anos, está sempre se queixando por não ter seus próprios livros. Acho este negócio de um livro para vários alunos uma promiscuidade, ainda mais do jeito que fica, amarrotado, cheio de orelhas e rabiscos. Isto compromete bastante a auto-estima das
crianças, não têm gosto em estudar”.
Alguns pais que tiveram uma participação mais ativa nas discussões da Proposta Pedagógica da escola no ano anterior questionaram se, com o uso dos materiais estruturados do Sistema, seria possível dar continuidade aos Projetos que a escola vinha desenvolvendo em decorrência daquela proposta. Outros, ainda, se mostraram preocupados diante dos argumentos do grupo de professores que se posicionava contra a adoção do material... Malvina saiu da reunião de pais ainda mais incerta quanto a qual seria o seu papel com relação à mudança proposta pela Secretaria de Educação: conduzir o processo de implementação dessa proposta junto à escola a despeito dos questionamentos de pais e docentes? Ou tornar-se porta-voz desses questionamentos junto à Secretaria e a outros diretores, tentando provocar um debate mais amplo sobre a mesma?
Malvina, na altura de seus 55 anos, já está chegando no tempo de não se surpreender tão facilmente. Apenas compreende. Registra no livro da sua trajetória que nada, de fato tem um lado só, seja positivo ou negativo. A seu ver a escola estaria se tornando um espaço de instrução, não de educação. Seria justo? Mas, por outro lado não precisamos preparar estas crianças para
um futuro seguro, com emprego, numa vida digna? Não havia outra forma de se promover a tal da inclusão; com maior amplitude, perdia-se a possibilidade de profundidade? E também, com a velocidade com que o conhecimento muda, teria que ser mesmo através da apostila.
Ela, a sua escola, estariam fazendo a sua parte?

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Estudo de Caso - Apostila

Olá diretores e coordenadores!
Estamos iniciando uma rodada de troca de experiências e opiniões a respeito de situações do nosso cotidiano.
Apresentamos um caso bem comum (e atual) para reflexões e discussões.
Leiam atentamente e postem comentários sobre suas impressões.
Em breve deixaremos algumas questões para ajudarem no debate.
Sua participação é muito importante.
Bom proveito e até breve.

sábado, 21 de maio de 2011

Ser Professor

Olá, amigos.
Ouvimos essa semana, o desabafo de uma professora pela indignação com relação a falta de valorização aos professores.
Repasso esse filme, que demonstra que mesmo sem valor por parte dos governantes, ainda há muita paixão em educar, em "Ser Professor". Isso porque o valor maior está dentro de nós.
Grande abraço,
Luiza

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Participe

Olá, gestor (a)!
É uma alegria poder contar com sua presença.
Você que é gestor, sabe bem a importância do trabalho coletivo.
Aproveite esse espaço e compartilhe suas experiências, troque ideias e dê sugestões.
Aqui procuraremos aprender mais a cada dia e colaborar para uma educação mais efetiva nas nossas escolas.
Abraços fraternos,
Maria Luiza

domingo, 15 de maio de 2011

Desafios na Educação - Qual o papel do gestor?

Ser gestor na área de educação é algo extremamente desafiador nos dias atuais. Mas é também uma oportunidade de contribuir para a construção de um mundo melhor.

O mundo se modifica constantemente e a educação não pode ficar estacionada. Os diversos problemas sociais, a mudança de paradigmas com relação aos valores e interesses dos alunos e as diversas "estruturas" familiares, afetam diretamente a escola.

O avanço da tecnologia vem alcançando cada vez mais cedo as crianças.

Tudo isso faz com que a escola também se reestruture a fim de melhor efetivar o processo de ensino aprendizagem.

E qual é o papel do gestor nesse processo? O gestor tem que, antes de tudo, buscar se adequar às mudanças da sociedade, conhecer seu grupo discente e docente com o máximo de profundidade possível e buscar estratégias de integração entre escola e família, para uma educação mais efetiva  e prazerosa.

Educação com alegria